Jackson Cionek
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Quando o Corpo Aprende pelo Movimento: Exergames, Carga Cognitiva e os Eus Tensionais no Envelhecimento

Quando o Corpo Aprende pelo Movimento: Exergames, Carga Cognitiva e os Eus Tensionais no Envelhecimento

Baseado em Müller et al. (2025), “Monitoring cognitive load while playing exergames in a four-week intervention for older adults: an EEG exploratory study”


Introdução — Consciência Brain Bee em Primeira Pessoa

Percebo que, quando o corpo começa a se mover, algo muda no meu modo de pensar.
O ritmo da respiração entra em sintonia com a atenção, como se o corpo reorganizasse a mente antes de qualquer decisão.
A experiência nasce primeiro no movimento; a compreensão vem depois.

É nesse instante — quando o corpo inicia o gesto e o cérebro se ajusta — que os exergames se tornam uma janela para observar o que a mente faz quando se move.


O Estudo — O que os pesquisadores descobriram?

O estudo de Müller et al. (2025) acompanha idosos durante quatro semanas de exergames, monitorando:

  • carga cognitiva

  • oscilação do foco

  • esforço mental

  • reorganização neural

Tudo isso via EEG durante o movimento.

A pergunta dos autores é simples:

“Como o cérebro envelhecido administra esforço cognitivo enquanto o corpo se move?”

E a resposta é surpreendente:

→ O movimento não rouba atenção; ele reorganiza a atenção.

Os exergames se tornam um portal para observar a plasticidade neural que ainda existe — mas precisa ser provocada com cuidado.


Como o cérebro envelhecido distribui energia

O EEG mostrou que, durante os exergames:

  • o foco começa estreito,

  • aumenta progressivamente,

  • e se estabiliza quando o corpo se sincroniza com a tarefa.

Isso valida o que afirmamos:

A atenção é uma coreografia metabólica.

E no envelhecimento, essa coreografia fica mais sensível:

  • exige menos carga para saturar,

  • mais tempo para estabilizar,

  • e mais corpo para reorganizar a mente.

Aos poucos, o movimento funciona como um “marcapasso cognitivo”.


Eus Tensionais durante os exergames

Os Eus Tensionais aparecem claramente no estudo:

1. Eu Tensional de Abertura

Surge quando o movimento é fluido e o cérebro encontra ritmo.
A atenção fica ampla, respirável.

2. Eu Tensional de Esforço

Aparece quando a tarefa exige mais coordenação.
A respiração se ajusta, músculos ativam padrões previsíveis.

3. Eu Tensional de Saturação

Acontece quando a carga é alta demais.
O EEG registra aumento de esforço, queda de performance e estreitamento atencional.

Esse último estado se aproxima da Zona 3, quando:

  • o corpo tenta cumprir a tarefa,

  • mas perde a fruição,

  • e passa a operar só no automático.


Zona 1, Zona 2 e Zona 3 no envelhecimento — leitura a partir do estudo

O estudo permite mapear os estados do nosso modelo:

  •  Zona 1 — Ação natural

Movimento fluido, foco moderado, esforço equilibrado.
Idosos começam na Zona 1, mas com mais oscilação.

Aparece após alguns minutos de sincronia corpo–tarefa.
O EEG mostra menor esforço e maior integração sensório-motora.

É nesse estado que a performance dos idosos melhora significativamente.

  • Zona 3 — Constrição / Saturação cognitiva

Quando a tarefa exige demais ou acelera.
A pessoa entra em rigidez motora + redução atencional.

E aqui está o ponto:

O estudo mostra que o envelhecimento não apaga a Zona 2 — ele só dificulta o acesso.


O corpo move a mente: Mente Damasiana como base da intervenção

Ao analisar o EEG durante o movimento, o estudo evidencia:

construindo a percepção, exatamente como propõe a Mente Damasiana.

Não é o idoso “pensando para mover”.
É o idoso movendo para pensar.

A mente, aqui, é consequência do ajuste corporal — não o contrário.


Yãy Hã Miy (origem Maxakali): imitar para reorganizar o movimento

Nos exergames, os participantes:

  • observam padrões,

  • imitam gestos,

  • e então transformam a execução.

Esse ciclo é exatamente o que o povo Maxakali descreve no Yãy Hã Miy:
imitar-se-ser para reorganizar-se-ser.

O estudo comprova isso em contexto neurocientífico:

A imitação motora reorganiza o ser que percebe.

E isso não desaparece com a idade — só fica mais lento.


Quorum Sensing Humano (QSH): sincronizar-se com a tarefa

O QSH aparece aqui numa forma intraindividual:
um alinhamento entre:

  • intenção,

  • percepção,

  • e ação.

Quando o idoso entra em sincronia com o jogo,
o cérebro “vota” a favor do movimento.

Quando entra em saturação,
as “votações” internas se desorganizam.

É o QSH como metáfora do consenso neurofuncional.


Plasticidade pós-50 — o que o estudo revela

Apesar de mais lenta, a plasticidade continua presente.
O EEG mostra:

  • reorganização de ritmos,

  • recalibração sensorial,

  • aumento de integração motora,

  • e melhoria de performance ao longo das semanas.

Isso reforça a sua tese:

A plasticidade não acaba; ela só exige mais fruição para emergir.

A fruição, nesse caso, é o motor da reorganização neural — não uma recompensa, mas uma condição.


Quando o movimento devolve o ser

Para muitos idosos, o movimento é a última forma de autonomia.
E o estudo mostra que:

  • mover-se reorganiza o Eu Tensional,

  • reorganizar o Eu Tensional reorganiza a consciência,

  • reorganizar a consciência devolve a vitalidade.

Os exergames, paradoxalmente, são menos “jogos” e mais:

 -  ferramentas de reconexão corporal
-  estímulos de fruição
-  portais para a Zona 2
-  interfaces para manter a Mente Damasiana ativa


Conclusão — Exergames como tecnologia de pertencimento e autonomia

O estudo evidencia que a velhice não é perda de função,
mas mudança na forma como o corpo acessa a experiência.

O movimento continua sendo:

  • linguagem,

  • reorganização,

  • plasticidade,

  • e consciência em fluxo.

E os exergames mostram que:

O corpo ainda sabe ensinar o cérebro — mesmo quando o cérebro parece mais lento para aprender.

Nesse sentido, eles não são ferramentas recreativas:
são tecnologias de cuidado, pertencimento e continuidade existencial.

Ensinar o movimento é ensinar o ser a reencontrar-se.

E é isso que a neurociência decolonial precisa assumir:
o envelhecimento não é o fim da consciência — é a mudança do seu ritmo.






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Jackson Cionek

New perspectives in translational control: from neurodegenerative diseases to glioblastoma | Brain States