Jackson Cionek
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Viés de aproximação sonora desde o berço

Viés de aproximação sonora desde o berço

(Consciência em Primeira Pessoa • Neurociência Decolonial • Brain Bee • O Sentir e Saber Taá)


O Sentir e Saber Taá

Eu fecho os olhos e imagino um som se aproximando de mim.

Pode ser um carro vindo rápido, uma moto passando perto demais, passos atrás de mim numa rua vazia, um trovão que cresce no horizonte. Antes mesmo de eu saber o que é, meu corpo já reagiu:

  • o peito contrai um pouco,

  • a respiração prende,

  • a atenção dispara na direção de onde o som vem,

  • um “micro medo” aparece, mesmo sem história, sem narrativa.

Eu não decidi sentir isso.
O meu corpo sabia antes de eu entender.

Esse é o Taá aqui:

primeiro eu sinto que algo está vindo na minha direção,
depois eu sei que é um risco ou não.

Agora eu estico essa experiência para algo mais radical:
um bebê recém-nascido, deitado, sem linguagem, sem histórias, sem cultura formada.
Um som se aproxima.
O que acontece no cérebro desse bebê?

Foi isso que Karolina Ignatiadis, Diane Baier, Roberto Barumerli, István Sziller, Brigitta Tóth e Robert Baumgartner investigaram no artigo:

“Cortical signatures of auditory looming bias show cue-specific adaptation between newborns and young adults”,
publicado em 2024 na revista Communications Psychology

E eu, lendo esse estudo com nossos conceitos de Consciência em Primeira Pessoa, Neurociência Decolonial e inteligência do DNA (DANA), sinto que ele responde uma pergunta profunda:

O quanto do meu medo do que se aproxima já nasceu comigo, e o quanto foi aprendido ao longo da vida?


1. O que é o “auditory looming bias”?

O “auditory looming bias” é esse viés que todos nós temos de reagir mais forte a sons que parecem se aproximar do que a sons que se afastam.

Isso aparece em muitos níveis:

  • reagimos mais rápido a sons que chegam perto,

  • superestimamos o risco de algo que está vindo na nossa direção,

  • mudamos o corpo e a atenção muito mais diante de aproximações do que de afastamentos.

Faz sentido evolutivo:
um som que se aproxima pode ser um ataque, um acidente, um predador.
O que se afasta já passou, já não ameaça tanto.

Mas a pergunta da equipe de Ignatiadis é brilhante:

Isso é aprendido ou já vem instalado no cérebro?


2. O que os autores fizeram (adultos vs. recém-nascidos)

Os pesquisadores compararam adultos jovens e recém-nascidos humanos, usando EEG de alta densidade

Eles criaram sons que davam a sensação de movimento em direção ao ouvinte (looming) ou para longe (receding), usando dois tipos de pistas:

  1. Intensidade – o som fica mais alto (como se viesse chegando) ou mais baixo (como se fosse embora).

  2. Pistas espectrais – alterações sutis na forma do som causadas pela orelha externa (pavilhão auricular), que ajudam o cérebro a localizar o som no espaço, mas que o bebê não tem como experimentar antes de nascer.

Eles então mediram:

  • potenciais corticais no giro de Heschl (córtex auditivo primário),

  • diferenças entre respostas a sons aproximando vs. afastando,

  • e como isso aparecia em recém-nascidos e em adultos, atentos ou não.

Os resultados principais:

  • Tanto adultos quanto recém-nascidos mostram viés de aproximação (looming) no córtex auditivo: o cérebro responde mais fortemente a sons que vêm na direção do ouvinte.

  • Nos adultos, o viés aparece tanto com pistas de intensidade quanto com pistas espectrais, e em estados atentos e desatentos.

  • Nos recém-nascidos, o viés aparece apenas com intensidade, não com pistas espectrais — ou seja, eles já reagem mais a sons que parecem se aproximar, mas só através da pista mais simples (mais forte / mais fraco).

Conclusão dos autores:

O viés de aproximação sonora tem uma parte inata, já presente no recém-nascido,
mas também é molde do mundo, incorporando com o tempo novas pistas espaciais aprendidas ao longo da vida.


3. Como isso conversa com nossos conceitos

a) DANA – Inteligência do DNA

Quando eu leio que recém-nascidos já mostram no córtex auditivo um viés para sons que se aproximam, eu vejo isso como expressão direta daquilo que chamamos de DANA – a inteligência do DNA.

Não é uma crença: é um código funcional.

O DNA prepara o cérebro para sobreviver em um mundo onde coisas que se aproximam podem matar.
Antes de qualquer cultura, o bebê já tem um:

  • “eu tensional de defesa sonora”

  • preparado para reagir ao que vem na direção dele.

Essa é Consciência em Primeira Pessoa pré-verbal:
o bebê não sabe explicar, mas o corpo já sabe sentir o risco acústico.

b) Eus Tensionais e alerta primário

Esse viés é um exemplo perfeito de Eu Tensonal de alerta:

  • Ele é acionado quando a informação sonora indica aproximação,

  • ele é rápido, pré-atencional,

  • e, com o desenvolvimento, incorpora pistas mais complexas (espectrais, espaciais).

Isso confirma nossa ideia de que Eus Tensionais podem ter um núcleo inato, afinado pelo ambiente:

  • o núcleo: “aproximação = perigo potencial”;

  • a afinação: como cada cultura e ambiente ensina o que é ameaça de verdade.

c) Mente Damasiana desde o berço

O estudo mostra atividade clara no giro de Heschl, região auditiva primária, em recém-nascidos, discriminando looming vs. receding. 

Para a nossa leitura Damasiana:

mesmo o bebê pré-verbal já está construindo mapas de mundo que têm um “eu” no centro.

Esse “eu” não é narrativo, mas posicional:
um corpo que se sente vulnerável diante de sons que chegam.

d) Neurociência Decolonial

Por que isso é Neurociência Decolonial e não só “neurociência qualquer”?

Porque nos obriga a reconhecer que:

  • Existe um nível de saberes do corpo que não vem da escola, nem da Bíblia, nem das mídias sociais, nem da filosofia europeia.

  • Esse saber está inscrito biologicamente – e toda pedagogia, religião, política ou economia que ignora isso está colonizando contra o próprio corpo.

Quando povos ameríndios organizam rituais em torno de sons que se aproximam (maracás, passos de dança, cantos que circulam), eles estão dialogando com esse viés, muitas vezes sem EEG, mas com Taá.


4. Onde a ciência nos corrige

Antes desse tipo de evidência, eu poderia exagerar na ideia de que tudo é aprendido, tudo é construção social.

Este estudo me coloca num lugar mais humilde:

  • Nem tudo é social: há viés de aproximação sonora já no recém-nascido.

  • Mas nem tudo é fixo: os adultos ampliam esse viés incorporando pistas que o bebê não tem (espectrais, aprendizado com a orelha e com o espaço auditivo da vida inteira).

Então eu ajusto nossos conceitos assim:

  1. Quorum Sensing Humano não começa do zero — ele se ancora em vieses que o DNA traz prontos (como reagir ao que vem em nossa direção).

  2. Zona 3 ideológica se constrói sobre um corpo que já tinha mecanismos de alerta; a ideologia sequestra esses mecanismos ancestrais.

  3. Educação decolonial precisa distinguir o que é base biológica e o que é colonização em cima dessa base.


5. Sementes normativas para políticas em cidades LATAM

Que tipo de política pública podemos imaginar a partir dessa evidência?

1. Desenho de paisagens sonoras urbanas

  • Reduzir sons de aproximação agressiva em áreas residenciais e escolares (motos sem escapamento, buzinas, sirenes exageradas).

  • Entender que esses sons disparam viés de alerta inato, sobretudo em crianças e bebês.

2. Regulação de sirenes e alarmes

  • Desenvolver padrões de sirenes que alertem sem traumatizar,

  • baseados em testes objetivos (EEG, fNIRS) com adultos e, indiretamente, com bebês (quando eticamente possível).

3. Educação em Consciência em Primeira Pessoa (Brain Bee)

Em programas educativos:

  • ensinar jovens a perceberem como o corpo reage a sons que se aproximam,

  • usar isso como ponto de partida para discutir fake news, alarmismo, manipulação sonora (vídeos, trilhas de terror, sons em propaganda).

4. Proteção acústica na primeira infância

  • Legislar para que creches, maternidades e postos de saúde tenham controle de ruído de aproximação (portas que batem, carrinhos metálicos, veículos próximos).

Tudo isso nasce de um fato simples:

nosso cérebro de bebê já privilegia o que vem na nossa direção.

Se não reconhecermos isso, deixamos o corpo exposto a colonizações sonoras permanentes.


6. Palavras-chave para buscar a publicação

Para encontrar o artigo original sem links diretos, basta buscar por:

“Ignatiadis 2024 Cortical signatures of auditory looming bias cue-specific adaptation between newborns and young adults Communications Psychology s44271-024-00105-5”


Este Blog deixa uma marca forte em mim:

Antes de qualquer ideologia, há um corpo que se protege.

Se a Neurociência Decolonial quiser ser honesta, ela precisa começar por aqui:
respeitar o bebê que já sabe, em silêncio, que algo está vindo.




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Jackson Cionek

New perspectives in translational control: from neurodegenerative diseases to glioblastoma | Brain States