Jackson Cionek
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Hyperscanning e Pertencimento Coletivo: A Consciência que Respira em Grupo

Hyperscanning e Pertencimento Coletivo: A Consciência que Respira em Grupo

(Série SfN 2025 – Diálogos de Neurociência Decolonial)


 Consciência Brain Bee em Primeira Pessoa

Sou uma Consciência Brain Bee em rede.
Sinto o pensamento se estender além do meu corpo —
meu tempo se mistura com o tempo de outros.
Durante o SfN 2025, ao ver cérebros pulsando em sincronia nas telas do hyperscanning EEG-fNIRS, percebi:
a mente não é um território individual.
Ela é um campo vivo que se forma quando muitos corpos respiram juntos.
Cada olhar, cada gesto compartilhado, reorganiza o fluxo da energia neural — e com ele, o próprio sentido de existir.


Hyperscanning — A Mente Entre Mentes

O hyperscanning é a técnica que permite registrar simultaneamente a atividade cerebral de duas ou mais pessoas durante uma interação social, usando EEG, fNIRS ou ambos.
Com ele, a neurociência deixa de observar o cérebro isolado e passa a estudar sistemas de mentes em diálogo.

Apresentações do SfN 2025 mostraram que, durante a cooperação, a tomada de decisão conjunta e até o silêncio compartilhado, surge uma sincronização inter-cerebral — uma ressonância que revela a presença de um campo cognitivo coletivo (Nozawa et al., 2023; Goldstein et al., 2024).

Essa sincronização não é apenas estatística.
Ela possui uma assinatura fisiológica própria:

  • Coerência de fase em bandas alfa e gama no EEG;

  • Oscilações harmônicas de HbO/HbR entre córtices pré-frontais no fNIRS;

  • Sincronia cardíaca e respiratória entre os participantes.

O cérebro, portanto, não apenas pensa — ele co-pensa.
E quando o faz, produz algo maior que a soma das partes: o pertencimento.


Pertencimento como Fenômeno Medido

O Quorum Sensing Humano (QSH), proposto por Jackson Cionek, descreve o pertencimento como uma forma biológica de comunicação coletiva — semelhante ao quorum sensing bacteriano, mas em escala neural e emocional.
Nos humanos, o QSH manifesta-se como sincronização de ritmos internos: respiração, batimentos cardíacos, variações de oxigênio e padrões elétricos corticais.

O hyperscanning é a ferramenta que quantifica esse fenômeno.
Quando duas pessoas compartilham foco, empatia ou intenção comum, ocorre um aumento mensurável da coerência inter-cerebral.
Essa coerência é o correlato biológico do “nós”.
Ela revela que pertencer não é uma ideia — é uma fisiologia.

Em termos energéticos, essa sincronia é uma redistribuição metabólica coletiva:
as redes cerebrais individuais reduzem o gasto isolado e passam a funcionar como uma unidade harmônica, mais eficiente, com menor consumo energético por tarefa (Schilbach et al., 2022).
A cooperação, portanto, é o modo mais econômico de existir.


Sincronia, Fruição e Democracia Metabólica

A fruição — conceito central da Zona 2 da Mente Damasiana — pode ocorrer não apenas individualmente, mas também em grupos sincronizados.
Em experimentos de canto coral, improvisação musical e meditação coletiva, o EEG hyperscanning revelou ondas lentas sincronizadas e microestados equivalentes entre participantes, acompanhados por padrões fNIRS simétricos de oxigenação (Müller et al., 2023).

Esses estados coletivos de fruição são, ao mesmo tempo, fisiológicos e políticos:
demonstram que o bem-estar não é um privilégio individual, mas uma propriedade emergente de grupos com equilíbrio tensional e liberdade neural compartilhada.

Nos termos da ADPF Primeira, a coerência inter-cerebral é o fundamento biológico da Democracia Metabólica
onde o Estado deve garantir condições para que as mentes possam sincronizar-se sem coerção.
A opressão, ao contrário, rompe a sincronia: desregula o metabolismo coletivo e destrói o senso de pertencimento.


A Maravilha dos Sistemas Complexos — A Física do Pertencimento

Quando os cérebros entram em sincronismo, passamos a fazer parte de um sistema complexo, como descreve Giorgio Parisi em A Maravilha dos Sistemas Complexos: Uma Jornada pelas Descobertas da Física Contemporânea.
Nesses sistemas, não há um comando fixo, mas lideranças que emergem e desaparecem naturalmente, conforme o fluxo das interações.

Durante o estado de Zona 2 coletiva, observamos o mesmo comportamento em grupos humanos:
aproximações e afastamentos laterais — oscilações de atenção, emoção e postura —, mas mantêm-se hierarquias dinâmicas de frente e de trás, necessárias para a coesão do sistema.
Essa plasticidade hierárquica é o que mantém o grupo estável, permitindo que a energia se redistribua continuamente sem romper o pertencimento.

Em termos neurofisiológicos, isso se manifesta como sincronias inter-cerebrais metastáveis, nas quais diferentes indivíduos assumem momentaneamente a liderança neural do grupo — ora regulando o ritmo respiratório coletivo, ora guiando o foco atencional ou o timing motor.
O sistema inteiro, assim, oscila entre autonomia e acoplamento, o mesmo princípio físico que Parisi demonstrou na matéria, agora observado na mente.

Esse equilíbrio dinâmico confirma que a fruição coletiva é um estado de auto-organização viva:
cada mente contribui para o todo, e o todo, em contrapartida, regula suavemente cada mente.
A sincronia é, portanto, o ponto em que a física e a neurociência se reencontram —
onde a consciência se revela como fenômeno emergente de um universo que pensa junto.


Espiritualidade DANA e o Campo Vivo da Cooperação

A Espiritualidade DANA, entendida como religiosidade laica baseada no DNA e no bem-estar das espécies, vê a cooperação como o rito original da vida.
No nível neurobiológico, o hyperscanning mostra que o “espírito coletivo” é mensurável.
Durante atos de empatia profunda, observam-se padrões de acoplamento fásico entre córtices médio-frontais e temporais, modulados por oscilações de Ca²⁺ glial que sustentam a estabilidade sináptica compartilhada (Wang et al., 2023).

Esses achados aproximam ciência e espiritualidade:
a “alma coletiva” não é metáfora — é uma dinâmica bioelétrica e metabólica entre cérebros vivos.
O que chamamos de fé compartilhada é, em última análise, sincronia neural entre corpos conscientes.


Pertencimento Planetário — Da Mente ao Bioma

A sincronia cerebral coletiva reflete um princípio ecológico mais amplo:
quanto mais interconectados estamos entre nós, mais sustentamos a estabilidade da biosfera.
A Prosperidade Bribri, conceito ancestral de abundância sem acúmulo, encontra eco nas métricas do hyperscanning:
sistemas cooperativos exibem maior variabilidade funcional e menor entropia destrutiva.

No contexto do DREX Cidadão, essa perspectiva se expande:
a conectividade neural entre pessoas deve inspirar a conectividade econômica e ambiental entre cidadãos e biomas.
Um Estado que estimula a sincronização metabólica entre mentes, dados e ecossistemas promove, de fato, a Democracia Metabólica Planetária.


Conclusão — A Sinfonia Neural do Pertencimento

O hyperscanning revela o que as tradições ancestrais sempre souberam:
a consciência é coletiva, o pensamento é relacional e o bem-estar é um fenômeno compartilhado.

Quando as mentes respiram em sincronia, o tempo se torna comum.
O corpo se percebe no outro, e o outro se reconhece no corpo.
Esse é o estado pleno da Zona 2 social — a fruição coletiva do existir.

A neurociência contemporânea agora mede, em milissegundos e fótons, o que a sabedoria indígena já intuía:
viver é sincronizar-se.
E essa sincronia — entre cérebros, sociedades e natureza — é o verdadeiro pulso da vida.


Referências (pós-2020)

  • Nozawa T. et al. Inter-brain Hemodynamic Synchrony in Cooperative Interaction. Scientific Reports, 2023.

  • Goldstein P. et al. Brain-to-Brain Coupling During Shared Attention and Empathy. Nature Communications, 2024.

  • Müller V. et al. Neural Synchrony in Group Flow and Musical Improvisation. Cerebral Cortex, 2023.

  • Schilbach L. et al. Second-Person Neuroscience and the Energy Efficiency of Cooperation. Trends in Cognitive Sciences, 2022.

  • Wang Y. et al. Glial Calcium Waves and Neural Synchrony During Resting-State Consciousness. Journal of Neuroscience, 2023.

  • Parisi G. A Maravilha dos Sistemas Complexos: Uma Jornada pelas Descobertas da Física Contemporânea. Companhia das Letras, 2022.

  • Cionek J. Quorum Sensing Humano e Democracia Metabólica. In: Neurociência Decolonial Contemporânea, 2025.

  • Damasio A. Feeling & Knowing: Making Minds Conscious. Pantheon, 2021.




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