Jackson Cionek
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Como projetar estudos de fNIRS em ambientes reais A ciência que precisa sair do laboratório para existir

Como projetar estudos de fNIRS em ambientes reais
A ciência que precisa sair do laboratório para existir

(Consciência em Primeira Pessoa • Neurociência Decolonial • Brain Bee • O Sentir e Saber Taá)


O Sentir e Saber Taá

Eu me imagino sentado numa sala de aula, não num laboratório.
Há conversa, cadeira arrastando, luz entrando pela janela, o ar condicionado liga e desliga, alguém mexe no celular, outro cruza a perna e balança o pé.

Agora eu coloco uma touca de fNIRS nessa cena.

De repente, eu percebo que não é só a cabeça que muda:

  • meu pescoço tensiona,

  • a postura fica diferente,

  • eu fico mais consciente do meu corpo,

  • minha respiração tenta “se comportar”.

Sinto que aquele ambiente vivo, complexo, não é o lugar “limpo” que o fNIRS costuma pedir.
Mas também sinto que é exatamente aí que a ciência deveria estar:
no mundo real, com ruído, calor, distrações, conflitos — onde o cérebro realmente vive.

Nesse instante eu percebo:

se o meu modelo de ciência só funciona numa sala branca isolada do mundo, talvez ele não esteja estudando o cérebro humano — esteja estudando um fantasma abstrato.

Percebo também como até minhas perguntas foram colonizadas:
o jeito que aprendi a fazer ciência veio de uma tradição que reduz o corpo a máquina, a mente a cálculo e a espiritualidade a superstição.
É por isso que tantos projetos de fNIRS ainda se prendem ao laboratório estéril: é o espaço “controlado”, mas também é o espaço colonizado, onde o mundo real é tratado como ruído.
Quando eu sinto meu corpo em uma sala cheia, com gente, barulho e vida, Taá me mostra outra coisa: Neurociência, Política e Espírito nunca estiveram separados.
O que coloniza não é só a história; é a palavra “ruído” usada para tudo o que não cabe no modelo.
Cada vez que eu levo o fNIRS para o ambiente real — escola, posto de saúde, rua — e leio os dados com coragem, eu abro uma brecha na Zona 3 e devolvo ao corpo o direito de ser território vivo, não apenas variável de controle.

É desse lugar que eu leio os trabalhos metodológicos recentes sobre fNIRS em ambientes ecológicos, que discutem:

  • como lidar com movimento,

  • como usar short-channels,

  • como ajustar o GLM à realidade,

  • como pensar HRF em gente que vive, não em voluntário imóvel de laboratório.


O que a ciência quer saber aqui

A pergunta central desses textos metodológicos é simples e radical:

Como projetar estudos de fNIRS em ambientes reais (salas de aula, reabilitação, esporte, trabalho) de modo que os dados sejam confiáveis — sem matar a vida que queremos estudar?

Isso inclui questões como:

  • Como lidar com movimento de cabeça, fala, gestos?

  • Como separar sinal cortical de ruído extracortical num ambiente com luz, calor e barulho?

  • Como modelar a HRF quando as tarefas não são blocos rígidos, mas interações vivas?

  • Como montar protocolos que respeitem o corpo e a cultura local, sobretudo em contextos LATAM?


Métodos e análise – GLM, short-channels, HRF, ICA/PCA

Os artigos metodológicos mais sérios convergem em alguns pilares:

1. GLM adaptado ao mundo real

O GLM (General Linear Model) continua sendo a base, mas:

  • precisa considerar tarefas mais longas e menos “quadradas”,

  • incluir regressoras para eventos naturais (fala, movimento, ruído),

  • aceitar que a linha de base não é perfeitamente estável.

2. Short-channels para separar pele e córtex

O uso de short-channels deixa de ser “opção” e passa a ser necessidade:

  • canais curtos captam principalmente mudanças de perfusão superficial,

  • permitem regredir esse componente e limpar o sinal cortical,

  • reduzem a influência de variações sistêmicas (respiração, pressão arterial, temperatura).

3. HRF flexível (não canônica)

A HRF em ambientes reais:

  • não segue sempre a forma clássica,

  • pode ser mais lenta, mais dispersa, mais sustentada,

  • muda com postura, emoção, fadiga.

Ferramentas como HRfunc (modelagem flexível da HRF) aparecem como caminho natural para:

  • ajustar a curva à pessoa,

  • reduzir falsos positivos/negativos,

  • honrar a variabilidade do corpo.

4. ICA/PCA para ruído natural

A variabilidade em ambientes reais é complexa; por isso:

  • ICA ajuda a separar componentes de movimento, respiração, batimentos, luz,

  • PCA identifica padrões globais de variação entre sujeitos e sessões,

  • componentes que claramente não têm perfil hemodinâmico típico podem ser removidos ou modelados separadamente.

5. Desenho experimental ecológico

Os autores propõem:

  • tarefas alinhadas ao contexto real (aula, sessão de fisioterapia, prática musical),

  • blocos mais longos,

  • medidas comportamentais ricas (performance, fala, interação),

  • registro simultâneo com vídeo para anotar eventos naturais.


O que essa linha de pesquisa está mostrando

As principais lições:

  • É possível obter dados fNIRS confiáveis em ambientes reais, desde que:

    • short-channels sejam usados,

    • o GLM seja bem especificado,

    • a HRF seja tratada como variável, não dogma,

    • o movimento seja registrado e modelado.

  • Estudos em real-world settings revelam padrões que não aparecem no laboratório:

    • flutuações de atenção relacionadas à interação social,

    • efeitos da fadiga ao longo do dia,

    • moduladores culturais (ritmos de fala, gestos, proximidade).

  • A “bagunça” do mundo real obriga o pesquisador a abandonar a ilusão de neutralidade total e aceitar a neurociência como ciência de corpos vivos, em contextos vivos.


Leitura com nossos conceitos

Mente Damasiana

A Mente Damasiana não nasce numa sala isolada; nasce:

  • da interocepção em movimento,

  • da propriocepção em interação,

  • do corpo que aprende, trabalha, sofre e celebra.

fNIRS em ambientes reais é uma forma de acompanhar essa mente no habitat natural dela.

Quorum Sensing Humano (QSH)

Em sala de aula, clínica, esporte, assembleia, o QSH aparece:

  • na forma como ritmos hemodinâmicos de diferentes pessoas se aproximam ou se afastam,

  • na maneira como fadiga, motivação e pertencimento modulam a energia cerebral.

Levar fNIRS para esses contextos permite enxergar esse quorum vivo.

Eus Tensionais

Cada ambiente convoca Eus Tensionais diferentes:

  • o eu atento mas relaxado do aprendizado,

  • o eu hipercontratado do ambiente hostil,

  • o eu criativo da Zona 2,

  • o eu fragmentado da Zona 3.

Em ambientes reais, o fNIRS consegue mostrar como esses eus se organizam ao longo do tempo, em vez de snapshots artificiais.

Zona 1 / 2 / 3

  • Laboratório rígido tende a capturar muito Zona 1 e pouco Zona 2.

  • Ambientes reais permitem ver:

    • momentos de fruição (Zona 2) emergindo de tarefas significativas,

    • momentos de sequestro (Zona 3) quando ideologias, algoritmos, pressão externa dominam.

DANA

A inteligência do DNA se expressa:

  • adaptando a hemodinâmica às demandas reais,

  • criando soluções fisiológicas para sobreviver ao calor, ao ruído, ao estresse.

Estudos em ambientes reais mostram o DANA em ação, não congelado em condições artificiais.

Yãy hã mĩy (origem Maxakali)

O conceito de Yãy hã mĩy, na origem Maxakali, fala de imitar o animal antes de caçá-lo.
No nosso uso estendido, trata do processo de imitar, aprender, tornar-se com o ambiente.

Projetar estudos de fNIRS em contextos reais é isso:

  • não impor um cenário “clean” europeu,

  • mas imitar o território onde o cérebro realmente caça sentido — escola, rua, roça, hospital público.


Onde a ciência ajusta nossas ideias

A grande correção é:

Não basta dizer “vamos humanizar a ciência” se o método continua preso à jaula do laboratório.

Esses métodos ecológicos mostram que:

  • a vida nunca cabe toda no controle experimental,

  • o “ruído” é muitas vezes o próprio fenômeno de interesse,

  • precisamos de ferramentas analíticas mais sofisticadas para honrar essa complexidade, não para apagá-la.


Implicações normativas para educação, saúde e política LATAM

  • Educação:
    Projetos com fNIRS em escolas públicas podem revelar como fome, violência, transporte e cansaço modulam atenção — e isso pode embasar políticas reais, não só teorias.

  • Saúde:
    Programas de reabilitação neurológica com fNIRS em contexto clínico real podem ajustar protocolos a ritmos reais de fadiga, dor, medo e esperança.

  • Política urbana:
    Estudos fNIRS em ambientes urbanos (praças, ônibus, filas) podem mostrar como o desenho da cidade impacta a energia cognitiva dos cidadãos.

  • Constituições LATAM:
    Uma ciência que sai do laboratório e entra no território reforça a ideia de Corpo Território e pode inspirar artigos constitucionais que reconheçam o direito a ambientes que não sequestram a mente.


Palavras-chave para busca científica

“fNIRS real-world environments ecological validity GLM short-channels HRF ICA PCA classroom rehabilitation ambulatory neuroimaging”





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Jackson Cionek

New perspectives in translational control: from neurodegenerative diseases to glioblastoma | Brain States