Carga cognitiva - O quanto o fNIRS realmente sente o meu esforço mental
Carga cognitiva
O quanto o fNIRS realmente sente o meu esforço mental
O Sentir e Saber Taá — abrindo a fresta de descolonização
Eu conheço bem essa sensação:
estou sentado, aparentemente parado, mas por dentro algo pesa.
A tarefa é simples no papel — somar números, lembrar sequências, responder rápido —
mas meu peito vai ficando mais apertado, a respiração mais curta, a testa mais tensa.
Não tem suor, não tem corrida, mas meu corpo sabe: estou sobrecarregado.
É um cansaço que não aparece na musculatura, aparece no modo como a mente se arrasta.
A cabeça quer parar antes do corpo: é a fadiga cognitiva chegando.
Esse é o Taá da carga cognitiva:
primeiro eu sinto o peso silencioso do esforço mental,
depois eu sei que meu desempenho começou a cair.
Também percebo que até minhas palavras foram colonizadas.
O idioma com que aprendi a falar de “desempenho” e “produtividade” foi moldado para me reduzir:
reduzir meu corpo a uma máquina que rende ou não rende,
minha mente a déficit ou eficiência,
minha espiritualidade a superstição lateral,
minha política a consumo e meta de resultado.
É por isso que tantos neurocientistas ainda evitam perguntar como a carga cognitiva é vivida no corpo, na história, na desigualdade — como se o esforço mental fosse apenas um número em um gráfico.
Mas quando eu sinto meu corpo antes de pensar — quando Taá se manifesta — percebo que não existe separação entre Neurociência, Política e Espiritualidade (Utupe, Xapiri, memória viva).
O que coloniza não é só a história: é a palavra que nos obriga a chamar exaustão de “alta performance”.
Cada estudo sério sobre carga cognitiva, quando lido com coragem, é uma fresta de liberdade que rompe a Zona 3 e devolve o corpo ao que sempre foi: território vivo, que tem limite, ritmo e dignidade.
A pergunta científica: o fNIRS sente mesmo meu esforço mental?
Em vários estudos recentes de fNIRS sobre carga cognitiva, participantes realizam tarefas como:
N-back (lembrar uma sequência de letras ou números com atraso),
aritmética mental em diferentes níveis de dificuldade,
ou combinações de memória de trabalho e tomada de decisão rápida.
Enquanto isso, a luz do fNIRS atravessa a testa e retorna carregando a assinatura da hemodinâmica pré-frontal.
A pergunta central é direta:
Quando a tarefa fica mais difícil, a hemodinâmica pré-frontal muda de forma confiável?
Ou seja: o fNIRS realmente “sente” o aumento da carga cognitiva?
Essa pergunta é crucial para tudo:
educação baseada em neurotecnologia,
ergonomia cognitiva,
psicologia do trabalho,
e nossas propostas político-educacionais para cidades latino-americanas.
Como os estudos medem isso (GLM, HRF, short-channels, ICA/PCA)
A linha geral desses trabalhos segue um pipeline relativamente padrão em fNIRS:
Tarefas com níveis graduais de dificuldade
por exemplo, N-back 0, 1, 2, 3;
ou contas simples vs. contas complexas;
cada nível é um “degrau” de carga cognitiva.
Registro da resposta hemodinâmica pré-frontal
canais sobre córtex pré-frontal dorsolateral e ventrolateral;
medição de O₂-Hb e HHb ao longo de blocos de tarefa e descanso.
Modelagem com GLM e HRF
uso de GLM (General Linear Model) para relacionar períodos de esforço às mudanças na hemodinâmica;
escolha de uma HRF (Hemodynamic Response Function), às vezes canônica, às vezes ajustada (como nos modelos tipo HRfunc), para capturar a forma real do pulso sanguíneo.
Short-channels para limpar ruído extracortical
canais curtos próximos à fonte de luz medem principalmente circulação superficial (pele, crânio);
esses sinais são usados como regressores no GLM para separar o que é atividade cortical e o que é ruído sistêmico.
ICA/PCA para decompor o sinal
ICA ajuda a remover componentes claramente fisiológicos (respiração, batimento, movimentos pequenos),
PCA resume padrões globais, distinguindo variação de interesse (carga) de variações de fundo.
No fim, os autores procuram um padrão:
quanto maior a dificuldade, mais consistente o aumento (ou a mudança de forma) da resposta hemodinâmica pré-frontal.
O que geralmente se encontra: esforço, limite e não linearidade
A literatura de fNIRS em carga cognitiva mostra alguns pontos recorrentes:
Aumentar a dificuldade da tarefa costuma aumentar a ativação pré-frontal (mais O₂-Hb, menos HHb) até certo ponto.
Após um nível, surge uma espécie de platô ou queda: o cérebro parece dizer “daqui pra frente não dá”, mesmo que eu continue tentando.
Em algumas pessoas, a sobrecarga se manifesta como resposta hemodinâmica irregular, mais ruidosa, sugerindo fadiga cognitiva.
Ou seja:
o fNIRS sente meu esforço — mas ele também sente quando meu sistema não consegue mais responder de forma organizada.
Se eu me recorto pelos Avatares Referências, aqui sinto fortemente o avatar Math/Hep, que olha para a relação entre energia, esforço e estatística: como o fluxo hemodinâmico traduz, em números, o custo de sustentar um Eu Tensonal focado sob alta carga. Ao mesmo tempo, DANA aparece como a inteligência do DNA que tenta proteger o sistema, impondo limites ao exagero cognitivo prolongado.
Leitura com nossos conceitos
Mente Damasiana
Em termos Damasianos:
a carga cognitiva não é apenas “mais neurônios trabalhando”,
é um estado em que interocepção e propriocepção são parcialmente silenciadas para sustentar atenção na tarefa.
Com fNIRS, vemos esse “silenciamento parcial” como redistribuição hemodinâmica: mais sangue, mais energia, em áreas específicas — à custa de outras experiências do corpo.
Eus Tensionais
Cada nível de carga cognitiva convoca um Eu Tensonal diferente:
o Eu leve, que resolve facilmente;
o Eu que começa a apertar o maxilar, prender a respiração, apertar o lápis;
o Eu que, em algum momento, simplesmente se rende, entra em confusão, dispersão ou desistência.
O fNIRS captura essa transição: a curva deixa de ser limpa e previsível, e passa a carregar a marca da exaustão.
Zona 1 / Zona 2 / Zona 3
Zona 1: automatismos confortáveis — baixa carga, baixa novidade;
Zona 2: esforço ótimo — desafio suficiente para aprender, mas sem entrar em colapso;
Zona 3: sobrecarga crônica — esforço contínuo sem descanso, exaustão mascarada por discursos de meritocracia.
A boa pedagogia e a boa política deveriam manter a maioria das experiências de aprendizagem em Zona 2, não na borda da Zona 3.
Onde a ciência ajusta nossas ideias
A visão colonial de produtividade diria:
“Quem aguenta mais carga cognitiva é melhor, mais inteligente, mais merecedor.”
A neurociência com evidência mostra outra coisa:
há um limite fisiológico para a carga sustentável;
ultrapassar esse limite de modo crônico está associado a erros, burnout, adoecimento;
pessoas em contextos de pobreza, racismo, desigualdade vivem carga cognitiva basal mais alta (preocupação constante, vigilância, insegurança).
Ou seja:
o “fracasso” não é falta de esforço — muitas vezes é excesso de esforço num sistema sem apoio.
Um espelho na arte latino-americana
Quando penso em carga cognitiva que esmaga, lembro de canções como “Construção” de Chico Buarque, onde o trabalhador vive um dia absurdo de exigências até desabar. Sem descrever neuroimagem, a música captura o corpo exaurido por tarefas repetitivas e desumanas — um retrato poético da Zona 3 cognitiva e existencial.
Essa arte nos lembra que carga mental não é só laboratório:
é vida concreta, é gente tentando pensar com o mínimo de espaço interno num mundo que cobra demais.
Implicações normativas para educação, trabalho e política LATAM
Escolas
Não basta falar de “mais conteúdo” e “melhor desempenho”.
Precisamos desenhar currículos que respeitem Zona 2, com pausas, fruição, corpo em movimento.
Trabalho
Medir carga cognitiva com fNIRS em contextos ocupacionais pode ajudar a mostrar, com dados, o que o corpo já sabe: jornadas e tarefas são excessivas.
Políticas urbanas e digitais
Ambientes ruidosos, multitarefa permanente, bombardeio de notificações digitais empurram populações inteiras para a borda da saturação.
Neurodireitos precisam incluir o direito a não viver em saturação cognitiva constante.
Neurociência Decolonial
Em vez de usar fNIRS para “extrair mais performance” das pessoas, podemos usá-lo para justificar leis e práticas que protejam o tempo interno, a atenção, a fruição.
Palavras-chave para busca científica
“fNIRS cognitive load prefrontal cortex N-back mental arithmetic GLM HRF short-channels ICA PCA mental workload”
Se eu volto ao meu próprio corpo, percebo:
quando a cabeça pede trégua, o fNIRS só confirma o que Taá já sabia.
A verdadeira ciência, aqui, não é me obrigar a aguentar mais —
é aprender a desenhar mundos onde pensar não signifique se destruir por dentro.