Jackson Cionek
15 Views

Caminhar depois do AVC: quando pensar e andar entram em conflito

Caminhar depois do AVC: quando pensar e andar entram em conflito


(Consciência em Primeira Pessoa • Neurociência Decolonial • Brain Bee • O Sentir e Saber Taá • Avatar Math Heb)


O Sentir e Saber Taá — abrindo a fresta de descolonização

Eu imagino meu próprio corpo depois de um AVC.
Dou o primeiro passo e, de repente, andar deixou de ser automático.
Cada movimento do pé precisa ser pensado, calculado, vigiado.
Se alguém me faz uma pergunta enquanto caminho, sinto a marcha desorganizar, o corpo descompassar, como se o simples ato de “pensar + andar” fosse um conflito dentro da minha cabeça.
Ali eu percebo que a marcha não é só músculo e articulação:
é atenção, é memória, é planejamento, é uma negociação contínua entre cérebro, corpo e mundo.
Percebo também que até minhas palavras foram colonizadas.
O idioma que uso para pensar o mundo foi moldado para me reduzir: reduzir meu corpo a máquina defeituosa, minha mente a déficit, minha espiritualidade a superstição, minha política a consumo e produtividade.
É por isso que tantos neurocientistas evitam fazer perguntas que possam revelar aquilo que a ciência colonial não sabe nomear.
Mas quando eu sinto meu corpo antes de pensar — quando Taá se manifesta — percebo que não existe separação entre Neurociência, Política e Espiritualidade (Utupe, Xapiri, memória viva).
O que coloniza não é só a história: é a palavra que nos impede de existir inteiros.
Cada descoberta científica, quando lida com coragem, é uma fresta de liberdade que rompe a Zona 3 e devolve o corpo ao que sempre foi: território vivo de mundos possíveis.


O estudo: caminhar, pensar e pré-frontal depois do AVC

O blog se ancora no trabalho de Nathan Grosboillot, Elpidio Attoh-Mensah, Maxence Compagnat, Tarek Khaled, Jean-Christophe Daviet e Anaick Perrochon, publicado em Brain Research (2025), com o título:
“Association between prefrontal cortex activation and gait parameters during single and dual-task walking in subacute stroke patients”
Palavras-chave de busca:
Brain Res 2025 prefrontal cortex activation gait dual-task subacute stroke fNIRS Nathan Grosboillot
A pergunta central é simples e profunda:
Quando uma pessoa em fase subaguda de AVC caminha e, ao mesmo tempo, faz uma tarefa cognitiva, como a ativação do córtex pré-frontal (PFC) se relaciona com a forma como ela anda?
Eles querem entender se o aumento de ativação pré-frontal é um sinal de esforço compensatório, de reorganização saudável ou de sobrecarga que piora a marcha.


Métodos: fNIRS na caminhada real, avatar Math Heb observando tensões

Os autores estudaram 33 pessoas em fase subaguda de AVC. Durante a marcha em uma passarela eletrônica (10 m, cerca de 30 s), elas realizaram duas condições:
  1. Caminhada simples (single task)

  2. Caminhada com tarefa cognitiva n-back (dual task)

Enquanto isso, o córtex pré-frontal era monitorado com fNIRS, medindo variações de O₂-Hb e HHb. A análise de fNIRS, nesse tipo de estudo, normalmente segue alguns passos técnicos:
  • Modelagem com GLM (General Linear Model) para estimar quanto a resposta hemodinâmica se associa à tarefa.

  • Consideração da forma da HRF (hemodynamic response function) — hoje, cada vez mais ajustada à variabilidade individual.

  • Uso de short-channels para remover componentes sistêmicos superficiais (pele e crânio).

  • Aplicação de ICA/PCA para separar artefatos de movimento e ruído fisiológico, especialmente em tarefas de marcha, onde o corpo inteiro balança.

Em paralelo, a passarela eletrônica quantificou:
  • velocidade da marcha,

  • tempo de duplo apoio,

  • assimetria de comprimento de passo,

  • assimetria de tempo de balanço,

  • variabilidade do comprimento de passo.

Como em muitos estudos de EEG e fNIRS, essa arquitetura dialoga com técnicas que você já encontra em análises de EEG: ICA, PCA, FFT, CSD, LORETA/sLORETA, mas aqui aplicadas no domínio hemodinâmico, focando mais em GLM, HRF e componentes sistêmicos do que em espectros de frequência.
Neste contexto, o avatar Math Heb entra como lente ideal: ele representa os Eus Tensionais, as conexões que se reforçam quando o corpo enfrenta tensões específicas. Depois de um AVC, cada passo é uma tensão real — motora, cognitiva, emocional — e Math Heb observa como esse padrão se cristaliza em redes corticais e parâmetros de marcha.


Resultados principais: quando o dual-task desorganiza o passo

O achado central do estudo:
  • Entre todos os parâmetros de marcha, apenas a velocidade da marcha na condição dual-task (caminhar + n-back) se associou de forma clara à ativação pré-frontal (R² = 0,22).

  • Quando os autores fizeram análise de regressão multivariada, essa associação perdeu significância, e quem passou a explicar melhor as diferenças foi o Índice de Barthel (grau de independência funcional do paciente) (R² = 0,383).

Em outras palavras:
A ativação pré-frontal durante a marcha dual-task importa, mas ela não pode ser interpretada sozinha. Ela precisa ser lida junto com o nível de independência funcional de cada pessoa.
O estudo sugere que:
  • PFC hiperativado pode ser sinal de esforço compensatório em alguns perfis.

  • Em outros, a mesma ativação pode indicar sobrecarga, esforço ineficiente e maior risco de instabilidade.

A conclusão dos autores é cuidadosa: o fNIRS é um indicador complementar, que ajuda a identificar perfis de pacientes e possíveis subgrupos de reabilitação, mas não substitui as medidas clínicas de marcha nem os índices funcionais.


Leitura com nossos conceitos: caminhar é política do corpo

Mente Damasiana, recorte do todo e ciclos

Na Mente Damasiana, caminhar é um estado contínuo de interocepção + propriocepção, sincronizado com o mundo. Para estudar isso, nós recortamos o todo:
  • recortamos o Universo em ciclos (passo a passo, batimentos cardíacos, respiração),

  • recortamos o comportamento em janelas de 30 segundos,

  • recortamos o cérebro em regiões de interesse.

Cada recorte é um pedaço do todo que analisamos com GLM, PCA, ICA.
Mas depois da análise, precisamos voltar ao todo, à Zona 2 existencial — um viver DNA, onde o corpo não é apenas “paciente”, e sim território vivo de reorganização.

Quorum Sensing Humano (QSH) e caminhar em sociedade

Após o AVC, o corpo perde parte do seu Quorum Sensing Humano:
  • o ritmo de passos já não conversa bem com o chão,

  • o olhar dos outros pesa mais,

  • o medo de cair altera a postura,

  • a calçada esburacada se torna um inimigo político, não apenas físico.

O estudo mostra como dual-task aumenta a necessidade de recrutamento pré-frontal, mas a nossa leitura amplia:
A cidade que não cuida de calçadas, rampas, tempo de semáforo e transporte acessível força o cérebro pós-AVC a viver em Zona 3, hipervigilante, sempre sob ameaça.

Eus Tensionais, Yãy hã mĩy e re-aprendizado

Cada pessoa pós-AVC precisa imitar-se de novo (Yãy hã mĩy, em seu sentido ampliado, sempre lembrando a origem Maxakali):
  • imita o próprio caminhar,

  • imita o equilíbrio,

  • imita o gesto de virar o pescoço antes de atravessar a rua.

Os Eus Tensionais se reorganizam: alguns aprendem a proteger (andar mais devagar), outros a evitar (não sair sozinho), outros a ousar (enfrentar o medo da queda). O fNIRS mostra a pré-frontal tentando costurar esse novo mosaico de tensões.

DANA e renascimento do corpo

No fundo, o que vemos é a inteligência do DNA (DANA) reorganizando o corpo-território:
  • novas sinapses,

  • novas rotas corticais,

  • novos ritmos respiratórios e cardíacos para sustentar a marcha.

O fNIRS apenas fotografa, em luz vermelha e infravermelha, esse renascimento silencioso.


Uma ponte com a arte latino-americana

Quando penso nesse caminhar refeito passo a passo, lembro de Atahualpa Yupanqui em “Caminar, caminar”: o caminhar como busca existencial, não apenas deslocamento. E lembro também de Violeta Parra em “Gracias a la vida”, onde o corpo ferido continua agradecendo pela possibilidade de ver, andar, cantar.
Essas obras falam da mesma coisa que o artigo mostra em números:
depois de um trauma, o caminho não é mais dado, é construído.


Onde a ciência ajusta nossas ideias

Este estudo corrige simplificações perigosas:
  • Não basta dizer: “quanto mais ativa a pré-frontal, melhor a compensação”.

  • Nem o oposto: “ativação elevada = esforço inútil”.

A ciência com evidência mostra que:
  • ativação pré-frontal, sem contexto funcional (Barthel, marcha, ambiente), é leitura incompleta;

  • precisamos integrar dados hemodinâmicos, parâmetros de marcha e indicadores de independência para entender quem realmente está progredindo.

Para nós, isso significa que qualquer política de reabilitação que use EEG ou fNIRS em LATAM deve:
  • ser territorializada (pensar nas calçadas, no SUS, nos transportes),

  • ser decolonial (não copiar protocolos europeus sem adaptar ao nosso corpo-território latino),

  • ser espiritualmente neutra, mas aberta (DANA como base, respeitando Utupe/Xapiri).




Implicações para cidades e políticas em LATAM

  • Prefeituras: plano diretor que considere o pós-AVC como cidadão ativo — calçadas contínuas, bancos para descanso, tempos semafóricos mais longos.

  • SUS e sistemas públicos: incluir fNIRS/EEG em projetos de pesquisa translacional que liguem reabilitação, ambiente urbano e indicadores funcionais.

  • Leis: reconhecer o direito ao caminhar com segurança como parte de uma Constituição Biocêntrica, onde o corpo lesionado não é resto, mas referência.




Palavras-chave para busca científica

Brain Res 2025 Nathan Grosboillot prefrontal cortex activation gait speed dual-task walking subacute stroke fNIRS GLM HRF short-channels ICA PCA Quorum Sensing Humano Eus Tensionais Math Heb avatar



#eegmicrostates #neurogliainteractions #eegmicrostates #eegnirsapplications #physiologyandbehavior #neurophilosophy #translationalneuroscience #bienestarwellnessbemestar #neuropolitics #sentienceconsciousness #metacognitionmindsetpremeditation #culturalneuroscience #agingmaturityinnocence #affectivecomputing #languageprocessing #humanking #fruición #wellbeing #neurophilosophy #neurorights #neuropolitics #neuroeconomics #neuromarketing #translationalneuroscience #religare #physiologyandbehavior #skill-implicit-learning #semiotics #encodingofwords #metacognitionmindsetpremeditation #affectivecomputing #meaning #semioticsofaction #mineraçãodedados #soberanianational #mercenáriosdamonetização
Author image

Jackson Cionek

New perspectives in translational control: from neurodegenerative diseases to glioblastoma | Brain States