Jackson Cionek
16 Views

Um Programa de Pesquisa Neuroergonômico

Um Programa de Pesquisa Neuroergonômico

Medir quando o Eu-Avatar sequestra o governo do corpo (percepção colonizada no Mundo-Espelho) e testar um protocolo curto que devolva “voz” ao Eu-Bioma por reancoragem interoceptiva e reconexão com o bioma-base. A escolha de EEG + fNIRS é direta: o EEG dá a cronologia fina do sequestro (captura atencional, conflito, erro, esforço) e o fNIRS dá o “custo metabólico” e a dinâmica hemodinâmica no córtex pré-frontal (controle/inibição/auto-referência) em tarefas rápidas e ecologicamente plausíveis. Isso está alinhado com a literatura recente que trata o acoplamento EEG-fNIRS como complementar (tempo vs espaço/fisiologia) e já o usa em tarefas motoras/cognitivas e em análises de topologia de redes, inclusive com revisões dedicadas ao dual-modality.

A primeira linha de estudos, “captura do Eu-Avatar”, pode ser operacionalizada sem filosofia: um paradigma simples de tarefa visual com sons-gatilho (notificação vs controle) e blocos curtos de “feed” neutro, medindo o quanto um estímulo exógeno entra antes da decisão endógena. Aqui o EEG já tem marcadores consolidados (P2/N2 e P3/novelty-P3) para captura e controle, e há evidência direta pós-2020 de que sons de notificação podem modular processos de controle/atenção em paradigmas experimentais (Navon + sons de notificação), tornando isso um bom “proxy” do Mundo-Espelho no laboratório. Em paralelo, o fNIRS entra com o “custo pré-frontal”: há estudos pós-2020 mostrando alteração/diminuição de ativação no dlPFC durante Stroop em usuários com uso problemático de smartphone, isto é, justamente quando o sistema de controle deveria estar forte.  E a ponte comportamental/saúde (para justificar relevância em jovens) está bem documentada em revisão sistemática com meta-análises sobre uso/problemático de redes sociais, saúde mental e sono. 

A segunda linha, “devolver voz ao Eu-Bioma”, testa um protocolo de 60–120 segundos (entrada → permanência → saída) como intervenção mínima entre blocos de tarefa: rebaixar urgência (expiração prolongada), destravar oralidade/mandíbula e recolocar a pergunta em primeira pessoa (“o que o bioma do meu corpo está pedindo agora?”). A hipótese é mensurável: após protocolo, cai a reatividade a gatilhos e melhora a flexibilidade, com menos “custo” pré-frontal no fNIRS e com mudança em marcadores de estados (EEG). Isso conversa com achados recentes sobre mindfulness/atenção e dinâmica espontânea do cérebro (microstates), inclusive trabalhos que relacionam traços de mindfulness a parâmetros de microstates e revisões sobre EEG em meditação. Do lado fNIRS, há piloto pós-2020 mostrando modulação do dlPFC após treino de mindfulness via app durante tarefa de controle atencional — útil como antecedente metodológico do “protocolo Eu-Bioma” (curto, aplicável, repetível).

A terceira linha, “saboteur interno = hábito sob pressão”, coloca a colonização como um fenômeno de automatização: quando há pressa, o corpo troca flexibilidade por sequência automática. Isso é exatamente o tipo de interferência entre hábito (sequência) e ação orientada a objetivos que foi formalizada em paradigma pós-2020/recente, com manipulação explícita de time pressure e conflito entre sequência aprendida e escolha goal-directed.  Aqui o EEG pode quantificar erro/monitoramento (ERN e theta frontal) e o fNIRS pode quantificar o “pedágio” do dlPFC quando o sujeito tenta voltar do automático para o deliberado.

A quarta linha, “bioma-base como âncora” (Costa+Mar, Andes, Bosque Nublado/Selva Alta, Amazônia), transforma identidade em fisiologia: primes sensoriais curtos (imagens/sons do bioma) antes de uma tarefa de controle (Stroop/Go-NoGo/Flanker) e depois do feed. Há literatura recente mostrando que exposição a natureza (até em vídeo) pode aumentar marcadores restaurativos como alfa no EEG, e que uma caminhada em natureza pode fortalecer índices neurais de controle executivo (por exemplo, mudanças em ERN) comparada a ambiente urbano.  Isso dá lastro para testar, de forma culturalmente situada no Peru, se “meu bioma-base” é um estimulador de restauração atencional e de retorno do Eu-Bioma (medido como menor captura e menor custo pré-frontal).

Se o centro quiser uma quinta linha opcional (bem “Eu-Bioma”), dá para incluir interocepção com um marcador fisiológico direto no EEG: o HEP (heartbeat-evoked potential), que tem sido caracterizado e usado como janela de integração cérebro-coração, e já aparece em estudos recentes em que a percepção subjetiva de mudança interoceptiva vem acompanhada por mudanças no HEP.  Isso permite afirmar, com dado, quando “o bioma ganhou voz” sem depender só de relato.

Em termos práticos, todos esses eixos cabem num desenho simples “pré → Mundo-Espelho → protocolo → pós”, com sessões curtas, análises básicas (RT/erros, ERP P2/N2/P3, ERN, potência alfa/theta; HbO/HbR em dlPFC/mPFC) e uma pergunta-âncora repetida (“quem está governando agora: Eu-Avatar ou Eu-Bioma?”). E a revisão pós-2020 apoia exatamente esse caminho: multimodal EEG-fNIRS como método maduro e portátil, notificações como gatilhos mensuráveis de captura/controle, uso problemático de smartphone associado a alteração pré-frontal em Stroop por fNIRS, natureza como restauradora com assinaturas em EEG e controle executivo, e interocepção com HEP como marcador de “voz corporal”.


Referencias:

  • Liu, Z., Shore, J., Wang, M., Yuan, F., Buss, A., & Zhao, X. (2021). A systematic review on hybrid EEG/fNIRS in brain–computer interface. Biomedical Signal Processing and Control, 68, 102595. doi:10.1016/j.bspc.2021.102595
    Ratifica: consolida o “como fazer” (design, extração de features e limitações) de protocolos híbridos EEG+fNIRS para tarefas de controle/atenção.

  • Chen, J., Yang, J., et al. (2024). Functional near-infrared spectroscopy and electroencephalography dual-modality system: a review. Brain Sciences, 14(6), 631.
    Ratifica: organiza a lógica de “duas realidades do sinal” (elétrica + hemodinâmica) para estudar 1ª pessoa (Eu-Bioma) com métricas objetivas.

  • Upshaw, J. D., Stevens, C. E. Jr., Ganis, G., & Zabelina, D. L. (2022). The hidden cost of a smartphone: The effect of smartphone notifications on cognitive control and event-related potentials. PLoS ONE, 17(11), e0277220.
    Ratifica: mostra que “pings” deslocam controle atencional (ERP) mesmo sem “conteúdo”, alinhando com Eu-Avatar crescendo quando o Eu-Bioma perde voz.

  • Upshaw, J. D., Stevens, C. E. Jr., Ganis, G., & Zabelina, D. L. (2024). Electrophysiological effects of smartphone notifications on cognitive control and feedback processing: Increases in N2 and FRN; mindfulness induction buffers effects. Biological Psychology, 191, 108916.
    Ratifica: conecta distração digital a marcadores de conflito/feedback (N2/FRN) e sugere um “protocolo” simples de proteção (mindfulness breve).

  • Xiang, M.-Q., Lin, L.-L., Song, Y.-T., Hu, M., & Hou, X.-H. (2022). Reduced left dorsolateral prefrontal activation in problematic smartphone users during the Stroop task: An fNIRS study. Frontiers in Psychiatry, 13, 1097375. doi:10.3389/fpsyt.2022.1097375
    Ratifica: evidencia que uso problemático se associa a pior inibição + menor recrutamento DLPFC (ponte direta para seus experimentos Stroop/Go-NoGo com fNIRS).

  • Ahmed, O., Walsh, E. I., Dawel, A., Alateeq, K., Espinoza Oyarce, D. A., & Cherbuin, N. (2024). Social media use, mental health and sleep: A systematic review with meta-analyses. Journal of Affective Disorders, 367, 701–712. doi:10.1016/j.jad.2024.08.193
    Ratifica: separa “uso” vs “uso problemático” e mostra efeitos mais consistentes do problemático (inclusive sono), ajudando a ancorar o Mundo-Espelho em evidência populacional.

  • Coll, M. P., Hobson, H., Bird, G., & Murphy, J. (2021). Systematic review and meta-analysis of the relationship between the heartbeat-evoked potential and interoception. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, 122, 190–200.
    Ratifica: dá base forte para usar HEP (EEG time-locked ao ECG) como marcador objetivo de “voz do corpo” (Eu-Bioma) em protocolos de atenção/interocepção.

  • Imperatori, C., et al. (2023). Exposure to nature is associated with decreased functional connectivity within the distress network: A resting state EEG study. Frontiers in Psychology, 14, 1130033.
    Ratifica: apoia a ideia de bioma/natureza modulando estado cerebral (repouso/conectividade), útil para “Bioma-base” como regulador de energia psíquica.

  • Klein, N. (2023). Doppelgänger: A Trip into the Mirror World (pt: “Doppelgänger: Uma Viagem Através do Mundo Espelho”).
    Ratifica: oferece a moldura conceitual (mundo-espelho/duplicações) para amarrar Eu-Avatar, internet física e a política da percepção colonizada.



#eegmicrostates #neurogliainteractions #eegmicrostates #eegnirsapplications #physiologyandbehavior #neurophilosophy #translationalneuroscience #bienestarwellnessbemestar #neuropolitics #sentienceconsciousness #metacognitionmindsetpremeditation #culturalneuroscience #agingmaturityinnocence #affectivecomputing #languageprocessing #humanking #fruición #wellbeing #neurophilosophy #neurorights #neuropolitics #neuroeconomics #neuromarketing #translationalneuroscience #religare #physiologyandbehavior #skill-implicit-learning #semiotics #encodingofwords #metacognitionmindsetpremeditation #affectivecomputing #meaning #semioticsofaction #mineraçãodedados #soberanianational #mercenáriosdamonetização
Author image

Jackson Cionek

New perspectives in translational control: from neurodegenerative diseases to glioblastoma | Brain States