Affordances, Corpo-Território e a Sabedoria Antes do Pensamento - NeuroCiência Decolonial SBNeC SfN 2025
Affordances, Corpo-Território e a Sabedoria Antes do Pensamento - NeuroCiência Decolonial SBNeC SfN 2025
Neurociência Decolonial e Propriocepção Estendida nos Modos de Agir Sem base no Lucro e acúmulo
Consciência em Primeira Pessoa:
“Eu sou Consciência em movimento. Não penso primeiro para agir — eu percebo. O chão me diz se posso correr, a cadeira me oferece sentar, a porta me mostra passagem. Antes de qualquer pensamento, meu corpo já sabe. Não preciso interpretar a selva: eu a escuto com os pés, com o ritmo da respiração, com a tensão do músculo. Eu sou o território me sentindo. Eu sou o gesto que reconhece a possibilidade. Antes do lucro, antes da ideia de acumular — há o corpo em harmonia com o que pode ser feito. Essa é a minha inteligência.”
O que são Affordances?
No vocabulário da psicologia ecológica, affordances são as possibilidades de ação oferecidas pelo ambiente — não como ideias, mas como percepções diretas do corpo em relação ao mundo. Uma pedra pode ser vista como algo para sentar, para subir ou para atacar, dependendo do corpo que a percebe.
Na neurociência, estudos com EEG mostram que o cérebro é capaz de detectar essas affordances em menos de 150 ms após a exposição a uma cena visual — antes mesmo de processar o nome da cena ou dos objetos (Greene & Hansen, Journal of Vision, 2025). Ou seja, o que podemos fazer é percebido antes do que vemos.
Affordance como Propriocepção Estendida: O APUS Ameríndio
Nas cosmologias ameríndias — como entre os Maxakali, Yanomami ou Bribri — não há separação entre corpo e ambiente. O corpo não está em um território; ele é o território. A floresta, a pedra, o rio, o fogo — todos participam de uma inteligência viva que se expressa em atos incorporados.
Este modo de percepção encarna o que chamamos de APUS: a propriocepção estendida, ou seja, a capacidade do corpo de se sentir no todo e agir sem necessidade de cogitação simbólica.
O xamã não "interpreta" a floresta — ele sonha com ela, dança com ela, se orienta por ela porque faz parte dela.
Assim, as affordances são APUS em ação: uma leitura direta das possibilidades do mundo que emerge de uma consciência encarnada, situada e pertencente.
A negação do lucro: uma decisão de Corpo-Território
No pensamento capitalista, as ações são avaliadas por custo-benefício e acúmulo de valor. Já nas sociedades ameríndias, a ação se orienta pelo equilíbrio do corpo com o território.
Negar o lucro não é ideologia — é uma decisão corporal. Um corpo que percebe que extrair demais mata a terra, o rio, os filhos e a si mesmo, simplesmente não extrai.
Esse é o verdadeiro valor das affordances: elas não perguntam “vale a pena?”, mas “é possível, é seguro, é justo para o corpo e para o território?”
Evidência científica que apoia essa visão
Estudos em neuroimagem e EEG têm mostrado que:
As affordances ativam áreas pré-motoras e parietais rapidamente (menos de 150 ms).
A decisão motora acontece antes da deliberação simbólica (Cisek & Kalaska, 2010).
A percepção de risco, abrigo, movimento ou permanência depende mais da interocepção e da propriocepção do que da cognição linguística (Khalsa et al., 2021).
Esses achados corroboram a ideia de que agir e perceber são inseparáveis, especialmente em estados como a Zona 2, onde o corpo está metabolicamente disponível para perceber de forma integrada.
Proposta Decolonial
Ao integrar o conceito de affordances com Corpo-Território (APUS), propomos um modelo de percepção e ação não mediado por lucro, ideologia ou linguagem, mas ancorado na sabedoria ancestral dos corpos em território. Isso implica em:
Educar o corpo para sentir antes de julgar.
Incorporar protocolos de EEG e fNIRS que avaliem percepção não-verbal de segurança, abrigo, nutrição, presença, etc.
Uma Aplicação em NeuroArquitetura
Affordances: o Design que Induz Ações
O primeiro princípio que gostaria de valorizar é o das affordances — um termo do design e da neurociência ambiental que se refere à forma como os elementos do espaço convidam o corpo à ação: sentar, deitar, contemplar, circular, desacelerar.
Corpo-Território: habitar com pertencimento
Conceito de Corpo-Território — muito utilizado hoje em práticas de design regenerativo e em abordagens arquitetônicas ligadas ao senso de lugar (sense of place). Ele representa a ideia de que o corpo não apenas ocupa o espaço, mas se conecta com ele — sente, reconhece e se regula por ele.
Por isso, a casa deve favorecer percursos corporais coerentes com os ciclos da luz natural, com os fluxos de vento, com os sons da mata.
Sabedoria Antes do Pensamento: neuroarquitetura intuitiva
Espaço que fale com o corpo antes da mente.
Isso se traduz em:
proporções que induzem relaxamento;
paletas cromáticas que favorecem a respiração e a contemplação;
texturas naturais que evocam a floresta atlântica;
elementos que geram respostas neurofisiológicas positivas, mesmo sem sabermos o porquê.
Trata-se de uma sabedoria incorporada no design, que respeita nossos ritmos biológicos, a ancestralidade dos materiais e a memória sensorial da natureza que nos cerca.
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